Angina de peito refratária: Transplantar ou não transplantar, eis a questão

Autores

Palavras-chave:

Transplante de coração, Angina de peito, Endarterectomia, Ponte de Artéria Coronária, Coração Auxiliar

Resumo

O transplante cardíaco é o tratamento de escolha para muitos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) terminal que permanecem sintomáticos mesmo sob a terapia médica ideal. Apesar de a cardiomiopatia isquêmica estar entre as principais etiologias que geram a indicação de transplante cardíaco, pacientes com doença arterial coronariana obstrutiva sem disfunção ventricular não são comumente referenciados para programas de transplante cardíaco. Alguns desses pacientes, entretanto, são considerados por diretrizes nacionais e internacionais como potenciais candidatos ao transplante cardíaco caso se apresentem com angina de peito refratária sem possibilidade de revascularização do miocárdio. A definição de refratariedade clínica e da exequibilidade técnica para revascularização do miocárdio além dos riscos envolvidos para as diferentes estratégias de cuidado não são comuns a todos os serviços que lidam com pacientes com doenças cardiovasculares graves e transplante cardíaco. Esse relato pretende discutir o caso de um paciente masculino de 42 anos, portador de doença arterial coronariana obstrutiva grave e com anatomia coronariana complexa, apresentando angina de peito refratária, referenciado para o programa de transplante cardíaco para realização de um transplante combinado coração-rim (paciente com insuficiência renal dialítica e outras graves comorbidades), cujo cuidado foi definido e executado de forma multidisciplinar. O paciente foi preparado para uma intervenção cardíaca de alto risco e teve ótima evolução após cirurgia de revascularização do miocárdio com a nova técnica de endarterectomia extensa, sob visão direta e reconstrução da artéria descendente anterior. Dispositivos para o suporte circulatório mecânico de retaguarda no período perioperatório e avaliação para transplante cardíaco no pré-operatório fizeram parte da estratégia de cuidado individualizada que, felizmente, não foram utilizadas. Nesse momento, o paciente se encontra em preparo para o transplante renal isolado. Os programas de cuidado estruturados, multidisciplinares e amadurecidos em processos de qualidade e segurança podem oferecer alternativas de cuidado alinhadas aos valores e preferências do paciente objetivando melhorar a qualidade de vida e a perspectiva de vida do indivíduo e garantir a utilização racional dos recursos coletivos.

Biografia do Autor

Tayane Vasconcellos Pereira, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO – RJ

Ana Luiza Ferreira Sales, Hospital Pró-Cardíaco

Cardiologista
Doutorado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ
Coordenadora do programa de Transplante Cardíaco e Suporte Circulatório Mecânico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ
Coordenadora do Bloco Cirúrgico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ

Lígia Neres Matos, Hospital Pró-Cardíaco

Enfermeira
Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, RJ
Membro do International Consortium of Circulatory Assist Clinicians (ICCAC)
Enfermeira do Programa de Transplante Cardíaco e Suporte Circulatório Mecânico do Hospital Pró-Cardíaco, RJ

Alexandre Siciliano Colafranceschi, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Cirurgião Torácico e Cardiovascular
Fellowship pela The Cleveland Clinic Foundation, OH – EUA
Mestrado pela Universidade de Harvard, MA – EUA
Doutorado pela Universidade de São Paulo, SP
Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO – RJ

Referências

Griepp RB, Ergin MA. The history of experimental heart transplantation. J Heart Transplant. 1984. 3:145.

Khush KK, Hsich E, Potena L, Cherikh WS, Chambers DC, Harhay MO, et al. The International Thoracic Organ Transplant Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: Thirty-eighth adult heart transplantation report - 2021; Focus on recipient characteristics. J Heart Lung Transplant. 2021 Oct. 40 (10):1035-1049.

Freitas NCC, Cherchiglia ML, Simão Filho C, Alvares-Teodoro J, Acurcio FA, Guerra Junior AA. Sixteen Years of Heart Transplant in an Open Cohort in Brazil: Analysis of Graft Survival of Patients using Immunosuppressants. Arq. Bras. Cardiol. 2021;116(4):744-53.

Avila MS, Belfort DSP. Progress in Heart Transplantation in Brazil: is it Time to Build a National Database?. Arq. Bras. Cardiol. 2021;116(4):754-5.

https://site.abto.org.br/en/publicacao/rbt-2019-2/. [Acessado 4 Julho 2022].

Bacal, Fernando et al. 3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2018 (111);2:230-289.

Mehra MR, Canter CE, Hannan MM, et al. The 2016 International Society for Heart Lung Transplantation listing criteria for heart transplantation: A 10-year update. J Heart Lung Transplant 2016; 35:1.

Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, et al. 2013 ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol 2013; 62:e147.

Ponikowski P, Voors AA, Anker SD, et al. 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure: The Task Force for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure of the European Society of Cardiology (ESC)Developed with the special contribution of the Heart Failure Association (HFA) of the ESC. Eur Heart J 2016; 37:2129.

Lawton J, Tamis-Holland J, et al. 2021 ACC/AHA/SCAI Guideline for Coronary Artery Revascularization. J Am Coll Cardiol. 2022 Jan, 79 (2) e21–e129.

Narula J, Bennett LE, DiSalvo T, Hosenpud JD, Semigran MJ, Dec GW. Outcomes in recipients of combined heart-kidney transplantation: multiorgan, same-donor transplant study of the International Society of Heart and Lung Transplantation/United Network for Organ Sharing Scientific Registry. Transplantation. 1997;63(6):861-7.

Ruderman I, Sevastos J, Anthony C, Ruygrok P, Chan W, Javorsky G, et al. Outcomes of simultaneous heart-kidney and lung-kidney transplantations: the Australian and New Zealand experience. Intern Med J. 2015;45(12):1236-41.

Atik, Fernando Antibas et al. Combined Heart and Kidney Transplantation: Initial Clinical Experience. Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery. 2022, (37); 02: 263-267.

Russo MJ, Rana A, Chen JM, Hong KN, Gelijns A, Moskowitz A, et al. Pretransplantation patient characteristics and survival following combined heart and kidney transplantation: an analysis of the United Network for Organ Sharing Database. Arch Surg. 2009;144(3):241-6.

Smilowitz NR, Guo Y, Rao S, et al. Perioperativecardiovascular outcomes of non-cardiac solid organ transplant surgery. Eur Heart J Qual Care Clin Out-comes. 2019;5:72–78.

McFalls EO, Ward HB, Moritz TE, et al. Coronary-artery revascularization before elective major vascular surgery. N Engl J Med. 2004;351:2795–2804.

Bailey CP, May A, Lemmon WM. Survival after coronary endarterectomy in man. J Am Med Assoc 164, 641-646 (1957).

Christenson JT, Simonet F, Schmuziger M. Extensive endarterectomy of the left anterior descending coronary artery combined with coronary artery bypass grafting. Coron Artery Dis 1995;6:731-7.

Halim MA, Qureshi SA, Towers MK, Yacoub MH. Early and late results of combined endarterectomy and coronary bypass grafting for diffuse coronary disease. Am J Cardiol 1982;49:1623-6.

Gao G, Zheng Z, Pi Y, Lu B, Lu J, et al. Aspirin plus clopidogrel therapy increases early venous graft patency after coronary artery bypass surgery a single-center, randomized, controlled trial. J Am Coll Cardiol 2010;56:1639-43.

Livesay JJ, Cooley DA, Hallman GL, Reul GJ, Ott DA, et al. Early and late results of coronary endarterectomy. Analysis of 3,369 patients. J Thorac Cardiovasc Surg 1986;92:649-60.

Nishigawa et al. JTCVS Techniques C 2021;133-137.

Radhakrishnan et al. Vessel Plus 2019; 3:36.

Downloads

Publicado

2022-11-21

Edição

Seção

Relato de Caso